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A Dança das Rainhas
Esse conto é uma continuação da série Selmara: https://castelosdaluxuria.blog/?cat=289 ****************************************** O salão de jogos do castelo estava mergulhado em sombras, iluminado apenas pelas brasas vivas da lareira e por duas velas esquecidas sobre a mesa. Lá fora, o vento assobiava contra os vitrais, mas ali dentro reinava um silêncio pesado, o tipo de silêncio que só um príncipe ressentido podia cultivar. Leopold estava sozinho. Era jovem, mas trazia no rosto as sombras de quem nascera para carregar coroas e desconfianças. Os cabelos castanhos escuros estavam presos para trás num laço de cetim negro, e a barba curta mal escondia a firmeza do maxilar. Os ombros largos moldavam-se à camisa branca…
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A Viajante
Era um sábado qualquer de 1995. Adrian, 23 anos, universitário. A noite de bebedeira com os colegas da arquitetura precisava chegar ao fim, simplesmente porque gastar mais dinheiro com bebida significava não ter como voltar para casa de táxi. Adrian caminhava até o balcão com a carteira na mão, o corpo ainda leve da cerveja, mas o olhar já pesado de cansaço. Usava jeans gasto, tênis sujos e uma camisa xadrez desabotoada por cima da camiseta do Nirvana — visual de universitário quebrado que não fazia esforço para parecer nada além do que era. Os cabelos castanho-escuros caíam em ondas desajeitadas sobre a testa, que ele empurrava de volta com…
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Beta-tester do desejo
O sol mal rastejava pelas cortinas empoeiradas quando Daniel acordou, o relógio digital piscando 7:47 em vermelho sobre a escrivaninha. Ele se arrastou da cama desfeita até a cadeira giratória, o estofado já moldado ao seu corpo após meses de uso diário. Pegou a caneca de café preto, o aroma forte subindo como um velho amigo, e abriu o laptop. A tela acendeu, e lá estava ele: o GPT. — Bom dia, GPT. Dormi mal de novo. Sonhei que estava preso num escritório sem saída. Daniel escreve para o GPT, antes de dar o primeiro gole. — Vocês IAs também sonham? Ele riu sozinho. — Bom dia, Daniel. Não, somos…
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A mulher perfeita
Esse conto faz parte de uma série, que pode ser lida aqui: https://castelosdaluxuria.blog/?cat=149 O som da chuva batendo nas janelas era como uma canção hipnótica naquela tarde de sábado.Jean e Lumina, depois de semanas intensas vivendo dias e noites de prazer desenfreado, finalmente tinham decidido tirar um dia de folga.Nada de festas, nada de orgias — apenas eles dois, jogados no sofá, sob uma manta macia, trocando carícias preguiçosas e sorrisos cúmplices.O dia ia escurecendo devagar, e a lareira lançava sombras douradas pelas paredes. Lumina se esticou languidamente, como uma gata satisfeita em seu vestido florido, e Jean aproveitou para deslizar a mão pelas coxas dela, sem nenhuma pressa. Foi…
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Verônica Véspera
— Irmãos, eu preciso alertá-los. O diabo está ao nosso redor tentando nos fazer cair. — Numa igreja neopentecostal num bairro periférico da cidade, pastor Carlos conduz sua pregação. — Não pensem que ele vai aparecer vermelho, chifrudo e com cauda, senão vocês correriam dele. Ele vai aparecer como uma coisa bela, inocente, e você vai dando vazão pra ele entrar na sua vida. Uma plateia atenta acompanha cada palavra, concordando com a advertência. Pastor Carlos agora tem 28 anos e é um jovem pastor promissor naquela instituição religiosa. Aos 22, largou a “vida errada”, substituiu os amigos antigos, as bebedeiras, as farras, as mulheres por algo maior. Na instituição,…
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O Negócio
Em frente à mansão, a bela e jovem loira acena para o motorista, indicando que ali é o lugar certo. — É aqui — diz Sr. Steve, homem muito bem-sucedido, por volta dos seus 50 anos. Era ali que o motorista deveria deixá-lo. Desce do carro e vai para a entrada da mansão, dá-se conta de que, na verdade, são duas loiras. A que acenava pro carro aparentava ter seus 40 anos, loira de olhos azuis, linda. Usava um elegante blazer azul, mantendo a formalidade esperada para uma corretora de imóveis de luxo. A outra, bem mais jovem, igualmente loira, de olhos igualmente azuis e de beleza similar, só que…
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Paradise Airlines
Sempre tive medo de avião e precisava fazer essa viagem para Paris. Mais de 12 horas de voo. Foi um grande amigo meu que me disse: “Você é um homem bem-sucedido, não precisa voar em aviões de carreira. Viaje por essa companhia de jatos executivos. O serviço de bordo é tão excelente que você vai esquecer que está em um avião.” Seguindo o conselho, resolvi viajar com esse jato dessa tal de Paradise Airlines. Envolta em mistério, o site da empresa não dizia muito a respeito dela. Não tinha redes sociais nem reputação online para eu pesquisar. A passagem era caríssima — e olha que minha secretária está acostumada a…